Como acolher alunos refugiados ou imigrantes





A integração de alunos refugiados e imigrantes é um desafio crescente e essencial para o ambiente educacional.

Nos últimos dez anos, o número de indivíduos forçados a deixar seus lares devido a conflitos, perseguições e instabilidades aumentou significativamente. 

De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), até meados de 2022, o mundo alcançou a alarmante cifra de 100 milhões de pessoas deslocadas, com a Síria (6,8 milhões), Venezuela (4,6 milhões) e Afeganistão (2,7 milhões) contribuindo significativamente para esse número. 

Recentemente de acordo com informações divulgadas pela Federação Árabe Palestina do Brasil, estima-se a presença de aproximadamente 60 mil pessoas, entre imigrantes e refugiados de origem palestina e seus descendentes, residindo no país.

A crise venezuelana desencadeou o maior movimento migratório da história recente da América Latina, enquanto o conflito na Síria gerou uma das maiores crises de refugiados de nosso tempo. 

No Afeganistão, as décadas de conflito e a instabilidade política resultaram em milhões de afegãos buscando refúgio em outros países. 

Essas estatísticas não são apenas números, mas refletem histórias de vida que se entrelaçam com o tecido social e educacional dos países anfitriões, incluindo o Brasil.

A presença desses alunos em salas de aula brasileiras traz consigo a necessidade de adaptação e desenvolvimento de novas estratégias pedagógicas. 

Educadores são desafiados a superar barreiras linguísticas, culturais e sociais, ao mesmo tempo em que proporcionam um ambiente seguro e inclusivo. 

A responsabilidade de acolher e integrar alunos refugiados e imigrantes vai além do compromisso educacional, refletindo os valores de empatia, respeito e solidariedade fundamentais em uma sociedade plural e consciente de seu papel global. 

Este artigo é um guia voltado a educadores que buscam formas efetivas de integrar esses estudantes em um ambiente acolhedor e propício para o aprendizado.


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A Língua Não Pode Ser uma Barreira entre alunos imigrantes, colegas e professores

O primeiro passo é superar a barreira do idioma. Apesar das restrições ao uso de celulares em muitas escolas, aplicativos de tradução são ferramentas essenciais para promover a comunicação. 

Recomenda-se o uso de tradutores em tempo real que possam ser ouvidos por fones de ouvido, permitindo que o aluno acompanhe as aulas e participe ativamente.

Um exemplo é o Google Tradutor, que oferece funcionalidades de tradução de voz em tempo real. 

Com a permissão do uso responsável de smartphones, o estudante pode utilizar fones de ouvido para receber traduções simultâneas, facilitando o entendimento do conteúdo e a interação com colegas e professores. 

Este recurso tecnológico, portanto, torna-se um aliado na integração educacional e social desses alunos.

Leia também: Como elaborar uma avaliação diagnóstica de geografia eficaz

Não Trate o Aluno refugiado Como “ O Diferente” 

Incluir esses alunos na rotina da sala de aula é vital. Professores podem criar atividades e brincadeiras que estimulem a participação de todos, sem destacar o estudante imigrante ou refugiado como alguém à parte do grupo.

Muito pelo contrário, para integrar alunos refugiados e imigrantes, uma atividade enriquecedora é a "Caça ao Tesouro Linguístico". 

Nesta brincadeira, objetos comuns da sala de aula são etiquetados em múltiplos idiomas, inclusive na língua materna do aluno refugiado ou imigrante. 

Os estudantes são divididos em pequenos grupos e recebem a missão de encontrar esses objetos, aprendendo e ensinando uns aos outros as palavras correspondentes em diferentes idiomas. 

Além disso, ao encorajar os alunos a ensinarem palavras de seus idiomas nativos, reforça-se a autoestima e a importância de cada cultura representada na sala de aula. 

A "Caça ao Tesouro Linguístico" pode ser adaptada para diferentes níveis de idade e conhecimento, tornando-se uma ferramenta versátil para o engajamento dos estudantes. 

Ao final da atividade, é interessante promover um momento de compartilhamento, onde cada grupo apresenta o que aprendeu, reforçando o sentimento de comunidade e respeito mútuo.

Proporcione a Troca Cultural Entre os Estudantes

Promover a troca cultural enriquece o ambiente educacional. Incentive que os alunos compartilhem músicas, alimentos e palavras de suas línguas, transformando a diversidade em uma ferramenta de aprendizado coletivo.

Se possível organize uma "Festa das Nações" na escola. Este evento pode se transformar em um momento educativo e inclusivo, celebrando as diversas culturas representadas na comunidade escolar. 

A festa pode oferecer, músicas, danças, pratos típicos e os alunos podem usar trajes característicos do país que ele está representando.

Use Provas e Atividades Adaptadas para os alunos estrangeiros

Na avaliação dos conhecimentos, é imprescindível preparar provas e atividades com o auxílio de ferramentas de tradução. Assim, garante-se que a linguagem não será um obstáculo para aferir o verdadeiro aprendizado do aluno.

Se Comunique com os Pais

É fundamental demonstrar aos pais dos alunos imigrantes ou refugiados que a escola está empenhada em garantir o melhor desempenho escolar possível. Estabeleça canais de comunicação claros e empáticos.

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Evite Perguntar o “Porque” Ele (o aluno refugiado) Veio Para o Brasil 

Respeite a história pessoal do aluno e evite indagações sobre os detalhes de sua imigração ou refúgio. Deixe que ele compartilhe suas experiências no tempo e modo que escolher.

Ao acolher alunos refugiados ou imigrantes em sala de aula, a postura do professor é fundamental para garantir um ambiente seguro e acolhedor. A neutralidade do educador é importante, especialmente ao abordar questões sensíveis como as razões pelas quais o aluno deixou seu país de origem. 

É importante lembrar que muitas dessas crianças e adolescentes podem ter vivenciado situações extremamente traumáticas, como conflitos, perseguições ou violência.

Mantenha uma postura neutra e empática, focando no bem-estar e na integração do aluno ao ambiente escolar. Evite fazer perguntas que possam fazer o aluno reviver traumas ou sentir-se exposto diante dos colegas.

Se o aluno desejar compartilhar suas experiências, assegure que isso ocorra em um contexto de respeito e compreensão, em um espaço seguro e no momento apropriado. A iniciativa de compartilhar deve partir do aluno, sem pressão ou expectativa por parte do educador ou dos colegas.

É recomendável que os professores recebam formação específica sobre como acolher e interagir com alunos imigrantes e refugiados, aprendendo a melhor maneira de apoiá-los emocional e pedagogicamente.

Algumas escolas possuem mecanismos de suporte psicossocial para alunos que possam estar enfrentando dificuldades emocionais relacionadas à imigração ou ao refúgio. Isso pode incluir o acesso a orientação psicológica ou a programas de apoio específicos. 

Confira se sua escola oferece esse suporte para que você se sinta respaldado na relação aluno x professor.

A abordagem do professor em relação aos alunos refugiados e imigrantes deve ser pautada pelo respeito, pela empatia e pelo profissionalismo, sempre priorizando o bem-estar emocional e a integração desses estudantes. 

Criar um ambiente acolhedor e inclusivo é fundamental para que todos os alunos, independentemente de sua origem, possam prosperar e se desenvolver plenamente.


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Minha Experiência Pessoal com Alunos refugiados 

Em minha jornada como educadora, tive o privilégio de ter três alunos afegãos e um venezuelano. Adaptando metodologias e exercitando a paciência e o respeito, testemunhei um progresso grandioso. O esforço conjunto resultou em uma experiência enriquecedora para todos envolvidos.

Durante o ano letivo, enfrentei o desafio e a responsabilidade de integrar três alunos afegãos e um venezuelano na dinâmica da minha sala de aula. Este processo exigiu de mim não apenas a adaptação de metodologias de ensino, mas também o uso intensivo de ferramentas de tradução e estratégias pedagógicas inclusivas para superar as barreiras linguísticas e culturais.

Usei o Google tradutor,  inclusive em alguns momentos, em tempo real para facilitar a comunicação, organizei atividades em grupos que promoviam a interação e o entendimento mútuo entre os alunos e busquei constantemente conhecimento sobre suas culturas para tornar o conteúdo das aulas mais atrativos. Mesmo como professora de Geografia fiz várias descobertas sobre a cultura dessas crianças. Uma coisa é ler livros e ouvir os jornais, outra coisa é estar frente a frente com essas crianças. 

O esforço foi imenso, por diversas vezes achei que não iria conseguir e tive que praticar  paciência, resiliência e um comprometimento profundo com o bem-estar e o desenvolvimento desses estudantes. 

Houve momentos de dificuldade e desafios inesperados, mas a dedicação mútua à aprendizagem e ao crescimento criou um ambiente de suporte e encorajamento.

Ao final do ano letivo, o progresso dos alunos foi notável. Eles não apenas melhoraram significativamente em suas habilidades linguísticas e acadêmicas, mas também se tornaram membros ativos e valorizados da comunidade escolar. 

Ver o sorriso em seus rostos, a confiança em suas vozes e o entusiasmo com o qual abordavam novos aprendizados foi imensamente gratificante.

Essa experiência transformou a maneira como vejo o papel da educação na construção de pontes entre diferentes culturas. 

Ensinar esses alunos afegãos e venezuelano reforçou minha crença no poder transformador da educação e na capacidade de superar desafios através da empatia, do respeito e da inovação pedagógica.

Esse ano (2024) eu tenho dois alunos palestinos matriculados no 8º ano e sei que posso  enfrentar algumas dificuldades como aconteceu nos anos anteriores. Mas por sorte, a equipe da escola onde eu trabalho é sensacional. Tenho suporte pedagógico e autonomia para desenvolver minhas aulas. 

Leia também: Planejamento anual de geografia 9º ano 

Conclusão

Espero que este artigo tenha oferecido suporte para acolher alunos imigrantes e refugiados. Te convido a refletir sobre seu papel como educador na inclusão e na formação de uma cultura escolar acolhedora. 

Professor, você já vivenciou essa experiência?  Quais estratégias você adotou para tornar suas aulas mais inclusivas? 

Como você pode promover entre seus alunos a valorização da diversidade e a empatia pelas experiências únicas de cada um?

Está pronto para ser um agente de mudança, inspirando outros educadores a se juntarem a você nessa jornada de inclusão e acolhimento?

Ao se inscrevera aqui no blog, você terá acesso a uma variedade de recursos, ideias e histórias inspiradoras que podem ajudá-lo a aprimorar suas práticas pedagógicas e a fazer a diferença na vida de alunos imigrantes e refugiados. 

Compartilhe este artigo com seus colegas e nas redes sociais para espalhar a palavra sobre a importância de criar ambientes de aprendizado acolhedores e inclusivos. 

Juntos, podemos construir uma comunidade educacional que acolhe, valoriza e celebra a diversidade. Até mais! 

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