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Hoje vamos conversar sobre como ensinar globalização em sala de aula — um daqueles temas que aparecem no livro didático cheios de textos longos, palavras difíceis e pouquíssimo vínculo com a realidade dos nossos alunos.
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Se você está em sala, sabe como é frustrante tentar explicar um conteúdo denso para uma turma desinteressada, com tempo apertado, recursos escassos e uma cobrança que parece não acabar nunca.
E quando o assunto é Geografia, o desafio aumenta: muitos conceitos abstratos, pouca aplicabilidade prática e quase nenhum material pronto que faça sentido no contexto escolar.
Mas a boa notícia é que sim, é possível transformar esse conteúdo em algo acessível, atrativo e, acima de tudo, significativo.
Hoje quero compartilhar uma proposta de atividade que desenvolvi e testei com turmas do Fundamental II, com recursos de baixo custo e fácil acesso.
A Importância De Ensinar Globalização Nos Dias Atuais
Sempre que abordo o tema da globalização em sala, percebo o quanto ele ainda gera dúvidas — tanto nos alunos quanto entre os próprios professores.
E não é à toa: é um conceito que muda conforme o tempo, o lugar e o olhar de quem analisa. Ensinar globalização nos dias atuais exige mais do que explicar trocas comerciais ou citar marcas internacionais.
Exige sensibilidade para mostrar aos estudantes como o mundo, hoje, está conectado de maneiras profundas e desiguais.
A palavra "globalização", do inglês globalization, ganhou força nos anos 1990 com autores como Milton Santos, que nos alertava para as contradições desse fenômeno.
Para ele, a globalização não era apenas econômica, mas também política, cultural e informacional — e por isso, deveria ser analisada de forma crítica.
Já pensadores como David Harvey destacam o “encurtamento do tempo e do espaço”, mostrando como as relações sociais foram reorganizadas em escala planetária.
E no campo educacional, autores como Maria Auxiliadora Monteiro (PUC-SP) defendem que o ensino da globalização deve ser situado na realidade do aluno, e não apenas em exemplos distantes.
O desafio está justamente nessa ambiguidade: enquanto a globalização amplia o acesso à informação, ela também acirra desigualdades. Enquanto conecta culturas, pode apagar identidades locais.
Ensinar globalização, portanto, não é só explicar como um produto chinês chega ao Brasil — é provocar reflexões sobre consumo, trabalho, exclusão e pertencimento.
Por isso, defender o ensino da globalização hoje é defender uma escola que forme leitores do mundo — e não apenas repetidores de conceitos.
É possibilitar que os alunos compreendam as relações globais a partir do que veem, tocam e consomem no dia a dia. Afinal, como já dizia Paulo Freire, “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”.
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O Que O Aluno Ganha Em Aprender Sobre Globalização
Quando proponho uma atividade sobre globalização em sala de aula, a primeira pergunta que ouço é: “Mas, professora, pra que serve isso?”.
E eu entendo. O aluno de hoje, mais do que nunca, precisa enxergar sentido no que está aprendendo — e esse é justamente um dos principais ganhos de trabalhar esse tema com intencionalidade.
Aprender sobre globalização ajuda o estudante a compreender como o mundo está interligado — não apenas em termos econômicos, mas também sociais, culturais, ambientais e até pessoais.
Ele passa a perceber que o tênis que usa, a comida que consome e o aplicativo que acessa fazem parte de uma rede global de decisões e interesses. Isso amplia sua visão de mundo e desenvolve sua capacidade de análise crítica.
Além disso, trabalhar com o tema da globalização contribui diretamente para a formação de competências essenciais previstas na BNCC, como o pensamento crítico, a argumentação, a empatia e o entendimento de contextos diversos.
Ao discutir a origem dos produtos, os fluxos de informação ou os contrastes entre países, o aluno vai além da memorização: ele aprende a refletir sobre seu lugar no mundo.
Outro ponto importante é que esse conteúdo dialoga com a realidade do aluno. Quando ele percebe que o que está aprendendo tem relação com a sua vida — com o que veste, consome, assiste ou deseja —, o engajamento cresce de forma natural.
E é aí que o ensino se torna significativo: quando conecta conhecimento à experiência.
Ensinar globalização, portanto, não é apenas cumprir um conteúdo do currículo. É oferecer ao aluno ferramentas para ler o mundo com mais consciência e autonomia.
E isso é, sem dúvida, um dos maiores ganhos que podemos proporcionar.
O Que a BNCC Diz Sobre Como Ensinar Globalização?
A proposta que desenvolvi é alinhada à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e pode ser adaptada para diferentes turmas do Ensino Fundamental II, respeitando o nível de complexidade de cada ano.
No 6º ano, a atividade se relaciona com a EF06GE08, que trata da circulação de mercadorias e sua conexão com o consumo cotidiano.
Quando o aluno percebe de onde vêm os objetos ao seu redor, entende que há redes globais por trás de cada escolha.
No 7º ano, ela dialoga com a EF07GE08, que propõe compreender a interdependência econômica entre países. Observar a origem dos produtos amplia a visão de mundo e revela o papel do Brasil nesse sistema.
Já no 8º ano, é possível explorar a habilidade EF08GE06, analisando os fluxos comerciais e culturais. Aqui, os alunos discutem como os produtos circulam, quais rotas percorrem e o que tudo isso representa para diferentes regiões.
No 9º ano, a reflexão pode ser mais crítica, a partir da EF09GE04, que foca nas transformações do espaço geográfico com base em avanços tecnológicos e globalização. A partir disso, surgem debates sobre desigualdades, consumo, dependência e impactos ambientais.
O diferencial dessa proposta é simples: ela parte da realidade concreta do aluno, evitando os conceitos prontos e incentivando a investigação, o diálogo e a mediação ativa.
Uma atividade coerente com o que a BNCC defende: protagonismo estudantil, interdisciplinaridade e contextualização.
Etapas De Uma Atividade Simples Para Ensinar Globalização
A atividade é estruturada em três etapas, todas viáveis mesmo em contextos com poucos recursos. A ideia é conduzir a turma por um processo de observação, análise e reflexão sobre os efeitos da globalização no seu cotidiano.
Etapa 1 – Sensibilização
Começo sempre com algo que provoque a curiosidade. Sugiro usar a música “Disneylandia”, da banda Titãs.
A letra menciona marcas globais, elementos culturais e padrões de consumo. É um bom ponto de partida para a pergunta: “De onde vem tudo isso que usamos e consumimos?”
Durante a escuta, proponho que os alunos façam anotações rápidas: o que reconhecem na música? Quais dessas marcas fazem parte do seu dia a dia?
Etapa 2 – Investigação
A turma recebe a tarefa de casa: observar objetos do cotidiano (em casa ou na escola) e registrar o nome do item e o país de origem. Pode ser uma embalagem de biscoito, a mochila, o calçado, o celular, o estojo, o fone de ouvido, o copo da cantina.
Sugiro 15 a 20 categorias para facilitar. Os alunos listam tudo em uma tabela simples.
Etapa 3 – Sistematização
De volta à sala, montamos juntos um quadro com os países mais recorrentes. Em seguida, organizamos esses dados em um gráfico de barras, que pode ser feito no papel mesmo.
A representação visual facilita a análise e desperta boas perguntas:
– Por que tantos produtos vêm da China?
– O Brasil aparece nessa lista?
– O que isso diz sobre a economia mundial?
Com esse percurso, o conteúdo de globalização deixa de ser abstrato. Ele passa a ser vivido, observado e discutido com base em algo que o aluno conhece.
Como Adaptar A Atividade Para Diversas Disciplinas?
Essa mesma atividade pode ser facilmente ampliada para outras áreas do conhecimento, sem perder sua essência pedagógica.
Trabalhos Interdisciplinares
- Língua Portuguesa: produção de um texto opinativo sobre os impactos da globalização.
- Matemática: análise estatística do gráfico com porcentagem e média.
- Inglês: estudo da origem e pronúncia de marcas e países.
- Artes: representação visual dos fluxos comerciais e culturais entre países.
Quando conseguimos criar pontes entre os conteúdos, o aluno compreende que a globalização não é só um assunto de Geografia, mas uma realidade que atravessa sua vida por vários caminhos.
Uso Opcional de Tecnologia
Se a escola dispõe de recursos, é possível usar planilhas eletrônicas para montar os gráficos, realizar pesquisas rápidas sobre os países citados e até transformar os resultados em apresentações de slides ou pequenos vídeos explicativos.
Mas é importante lembrar: a proposta funciona mesmo sem tecnologia, o que a torna aplicável em praticamente qualquer realidade escolar.
Por Que Essa Atividade Funciona?
Porque ela começa pelo aluno, não pelo livro. Ela reconhece a realidade, dá espaço para a escuta e valoriza o conhecimento prévio.
É uma prática que não exige grandes aparatos, mas sim intencionalidade pedagógica.
Na sala de aula, percebo que quando o conteúdo faz sentido, o comportamento muda. O olhar se torna mais atento, o engajamento aumenta e a aprendizagem acontece com mais naturalidade.
Ensinar globalização não precisa ser complicado — basta partir do que o aluno já vive.
Ensinando Globalização em Diversos Formatos
Filmes Para Entender A Globalização
Sempre que possível, gosto de usar o audiovisual como recurso pedagógico. Filmes bem escolhidos ajudam a tornar a globalização mais concreta para os alunos — especialmente quando ela é trabalhada a partir de personagens, produtos e situações do cotidiano.
Aqui estão alguns títulos que já utilizei com diferentes turmas e que funcionaram bem como ponto de partida para discussão:
1. O Mundo Segundo a Monsanto (2008)
Documentário que trata do impacto de uma multinacional do agronegócio sobre a produção de alimentos. Ótimo para discutir a globalização econômica e os efeitos sobre o meio ambiente e a soberania alimentar.
2. Quem Quer Ser um Milionário? (2008)
O filme se passa na Índia e mostra como a globalização convive com desigualdades profundas. É um bom exemplo para abordar fluxos culturais, exclusão social e transformações urbanas.
3. A Rede Social (2010)
Apesar de não tratar diretamente de globalização, o filme ajuda a discutir o impacto das redes digitais, da cultura do Vale do Silício e da globalização da informação no comportamento dos jovens.
4. A Corporação (2003)
Esse documentário analisa o poder das grandes empresas multinacionais e como elas influenciam políticas públicas, consumo e relações de trabalho. Ideal para uma abordagem crítica do sistema global.
5. O Menino Que Descobriu o Vento (2019)
Inspirado em uma história real, o filme mostra como conhecimento, criatividade e realidade local se misturam em contextos de pobreza. Abre espaço para discutir globalização, educação e desigualdade.
Após a exibição, costumo propor uma roda de conversa ou uma produção de texto breve, conectando o conteúdo do filme ao tema da aula. Isso ajuda o aluno a refletir de forma mais profunda e a estabelecer relações entre teoria e prática.
Músicas para Ensinar Globalização
Trabalhar música em sala de aula é uma forma eficaz de conectar os alunos ao tema da globalização de maneira acessível e provocadora. A letra de uma canção pode revelar muito sobre consumo, identidade, desigualdade e fluxos culturais. Abaixo, listo algumas opções que já usei ou recomendo para enriquecer suas aulas:
1. Alvo de um Pistoleiro – O Rappa
Letra forte que permite discutir desigualdades, exclusão social e o contraste entre quem se beneficia da globalização e quem fica à margem.
2. American Idiot – Green Day
Boa para turmas mais avançadas. A música critica a influência cultural e política dos Estados Unidos no mundo, possibilitando reflexões sobre hegemonia cultural e manipulação da informação.
3. Diáspora – Tribalistas
Explora temas como deslocamentos humanos, diversidade e pertencimento — aspectos diretamente ligados aos fluxos migratórios e à circulação de culturas no mundo globalizado.
4. Where Is The Love? – Black Eyed Peas
Aborda desigualdade, violência, guerra e intolerância em escala global. Pode ser usada para discutir os efeitos negativos da globalização sobre populações vulneráveis.
5. Etérea – Criolo
Apesar de mais recente e com linguagem poética, essa música abre espaço para refletir sobre identidade, pertencimento e a luta por espaço em um mundo onde padrões globais tentam uniformizar tudo.
Após a escuta, gosto de propor atividades simples: debate em grupo, produção de texto ou mesmo uma roda de conversa.
O importante é conectar a letra ao conteúdo e à realidade do aluno, mostrando que a globalização está presente até mesmo nas músicas que eles ouvem.
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Conclusão
Ensinar globalização não precisa ser algo distante ou complicado. Quando partimos da realidade do aluno e usamos recursos acessíveis, o conteúdo ganha sentido e gera envolvimento real.
A proposta que compartilhei aqui mostra que, mesmo com poucos recursos, é possível promover uma aprendizagem crítica, conectada com o mundo e com o cotidiano dos estudantes.
Mais do que explicar um conceito, ensinar globalização é formar leitores do mundo — e isso começa com práticas intencionais, simples e cheias de significado.
Espero que este texto tenha te ajudado de alguma forma.
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2 Comentários
teria a resposta por favor
ResponderExcluirObrigada pela visita! A resposta foi postada. Volte Sempre...
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Professora Camila Teles