Ser professor é resistir todos os dias. Mas até quando isso vai ser visto apenas como uma obrigação silenciosa?
Ser professor no Brasil é amar o que se faz, mesmo quando tudo ao redor aponta para o contrário.
É carregar uma vocação nas costas e, ao mesmo tempo, suportar salários defasados, jornadas exaustivas, falta de reconhecimento e estruturas precárias.
Muitos ainda acreditam que dar aula é um ato de heroísmo — mas a verdade é que, por trás da lousa, há profissionais exaustos tentando não desistir.
Você também já sentiu que ser professor virou sinônimo de se anular para manter o sistema funcionando? Que luta é essa que a gente compra todos os dias — e quase sempre, sozinho?
A ilusão do reconhecimento em ser professor
Ser professor, para muitos fora da escola, ainda é visto como uma profissão “nobre”. Nos discursos de políticos, nas redes sociais durante o Dia do Professor, nas homenagens de praxe, o que não faltam são palavras bonitas: “heróis”, “missionários”, “transformadores”.
Mas essas frases de efeito somem rápido quando o assunto é valorização real.
Na prática, ser professor significa lidar com salas superlotadas, materiais escassos, decisões impostas de cima para baixo e salários que mal acompanham o custo de vida.
Enquanto isso, nas datas comemorativas, nos entregam uma caneca, uma lembrancinha, uma mensagem padronizada... e esperam que isso nos sustente emocionalmente até o próximo outubro.
Existe uma diferença gritante entre ser celebrado pontualmente e ser respeitado continuamente. E o problema é que, quando a valorização se resume à aparência, o sentimento de invisibilidade só aumenta.
Realidade da desvalorização da carreira de professor
Ser professor, no Brasil, é viver em uma contradição constante: se, por um lado, temos a responsabilidade de formar cidadãos, por outro, recebemos pouco respaldo para exercer esse papel com dignidade.
Segundo dados do IPEA, mais de 50% dos docentes da educação básica ganham menos de R$3.000 por mês, mesmo acumulando duas ou três jornadas.
As condições de trabalho também refletem essa desvalorização. Muitas escolas funcionam com infraestrutura precária, falta de recursos básicos e ausência de apoio pedagógico.
A tecnologia, quando existe, é mal distribuída ou pouco acessível. E, além de ensinar, o professor precisa resolver conflitos, acolher, preencher relatórios intermináveis, criar estratégias inclusivas e dar conta de exigências que se multiplicam a cada ano.
Com carga horária estourada e múltiplas funções acumuladas, ser professor acaba consumindo mais do que apenas tempo: consome saúde, energia, finais de semana e, aos poucos, até a motivação. E tudo isso sem garantias reais de valorização futura.
A resistência do professor como rotina
Ser professor hoje é muito mais do que planejar aulas e ensinar conteúdos. É resistir. Resistir ao desânimo diário, à falta de recursos, à pressão de metas inalcançáveis.
É continuar entrando em sala de aula mesmo quando a escola não oferece o básico — desde papel até segurança física e emocional.
Resistir é criar estratégias para manter a atenção dos alunos sem apoio pedagógico, lidar com turmas heterogêneas sem formação continuada, e ainda dar conta das cobranças da coordenação, da direção e das famílias.
É corrigir provas no transporte público, preparar aulas no domingo à noite, improvisar quando o projetor quebra, acolher o aluno que chegou chorando, e mesmo assim seguir firme no propósito de educar.
Para muitos, ser professor é uma paixão. Mas quando a paixão exige esforço extremo todos os dias, sem retorno justo, ela se transforma em sobrecarga. E essa sobrecarga, silenciosa e constante, vem adoecendo milhares de docentes no Brasil.
Efeitos da desvalorização do professor
Resistir todos os dias tem um custo — e ser professor, nesse cenário, cobra um preço alto demais.
Os impactos físicos, emocionais e psicológicos da profissão estão em ascensão: dores crônicas, insônia, crises de ansiedade, depressão e, cada vez mais comum, o burnout. A exaustão não é mais um exagero — virou estatística.
Segundo levantamento da Organização Internacional do Trabalho, o Brasil está entre os países com maior índice de adoecimento entre profissionais da educação.
Muitos docentes precisam se afastar por problemas emocionais, mas retornam às mesmas condições que os adoeceram. Outros seguem adoecidos, sem parar, com medo de retaliação ou de perder o emprego.
O mais grave é que, com o tempo, o sofrimento se normaliza. Virou “parte do pacote” ser professor e viver esgotado, sem tempo, sem saúde.
Como se o amor pelo ofício justificasse o abandono institucional. Mas não justifica. E aceitar isso como normal só aprofunda o problema.
Ser professor: Existe saída? Caminhos possíveis
Ser professor não precisa ser sinônimo de sacrifício constante. Há saídas possíveis, mesmo que nem todas sejam fáceis.
Para alguns, mudar de área ou reduzir a carga horária é uma forma de preservar a saúde mental.
Outros buscam formação complementar, novos caminhos dentro da educação ou o apoio de terapias que ajudem a lidar com o desgaste.
Mas não dá para resolver tudo sozinho. A resistência individual só tem força real quando encontra respaldo coletivo.
Sindicatos atuantes, redes de apoio entre professores, movimentos por valorização profissional — tudo isso fortalece a luta e tira o peso do isolamento.
Compartilhar vivências, reivindicar direitos e exigir condições dignas é parte do que precisamos fazer para continuar.
É urgente parar de romantizar a dor. Ser professor não é um ato heróico, é uma profissão. E toda profissão precisa ser reconhecida, respeitada e bem remunerada.
Educar não pode continuar sendo uma missão sustentada apenas por amor — porque amor não paga boleto, não afasta burnout e nem segura a saúde quando ela começa a falhar.
Conclusão: por que continuar?
Ser professor é, para muitos de nós, mais do que uma escolha profissional — é uma parte do que somos.
Amamos ensinar, ver os alunos aprendendo, fazer parte de transformações reais. Mas amar o que se faz não deveria significar abrir mão do próprio bem-estar.
E é exatamente isso que tem acontecido com milhares de educadores que seguem firmes, mesmo esgotados.
Até quando vamos aceitar um modelo de educação que sobrecarrega quem ensina? Até quando vamos fingir que reconhecimento simbólico basta, enquanto a realidade continua sufocante?
A resposta não é simples, nem única. Mas começa quando a gente para de se calar, começa a conversar e entende que não é fraqueza se sentir cansado — é consequência.
Ser professor não deveria ser um ato de resistência solitária. Precisa ser uma escolha respeitada, apoiada e valorizada.
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Professora Camila Teles