Oi, professor(a)! Hoje vamos falar sobre a crise migratória venezuelana e o impacto direto que ela tem causado nas escolas brasileiras.
Nos últimos anos, vi de perto essa realidade na escola onde trabalho.
Desde 2023, tenho recebido alunos venezuelanos — crianças e adolescentes que atravessaram fronteiras em busca de segurança e dignidade.
Além deles, convivemos hoje também com estudantes palestinos e afegãos.
Como educadores, precisamos estar preparados para acolher essas histórias que cruzam nossas salas de aula, muitas vezes marcadas por perdas e traumas.
Neste texto, compartilho a minha experiência e trago informações importantes para entender o contexto dessa migração, os desafios da integração e como podemos construir um ambiente escolar mais empático e inclusivo. Vamos começar?
O que levou tantos venezuelanos a buscar refúgio no Brasil?
A partir de 2015, a Venezuela mergulhou em uma profunda crise econômica, política e humanitária.
O país enfrentou o colapso de suas estruturas econômicas, agravado por:
- Hiperinflação.
- Desabastecimento de alimentos e medicamentos.
- Repressão política.
Esses fatores obrigaram milhões de venezuelanos a deixar seu país, sendo o Brasil um dos principais destinos pela proximidade geográfica.
A cidade de Pacaraima, em Roraima, tornou-se a principal porta de entrada desses migrantes. A partir dali, muitos seguiram para outras regiões do Brasil, incluindo o estado onde atuo como professora.
Travessias desumanas: a jornada dos refugiados venezuelanos
As travessias são realizadas sob condições extremamente precárias e expõem histórias de coragem e desespero.
Famílias inteiras atravessam a fronteira a pé, carregando apenas sacos plásticos com roupas e documentos.
Lembro de um relato impactante de 2022, quando uma mãe venezuelana foi encontrada com seus dois filhos após caminhar por mais de uma semana, sobrevivendo com água de rios e pedaços de pão oferecidos por moradores.
Muitas dessas famílias enfrentam:
- Violência e exploração durante o percurso.
- Assaltos e abandono por atravessadores.
- Risco constante de violência sexual, especialmente mulheres e meninas.
Apesar de todas as dificuldades, seguem firmes em busca de um futuro melhor.
O colapso de Pacaraima diante da crise humanitária
Com uma população estimada em 12 mil habitantes, Pacaraima viu-se rapidamente sobrecarregada.
Os serviços básicos, como saúde e educação, ficaram insuficientes.
- Hospitais superlotados.
- Escassez de medicamentos.
- Falta de vagas nas escolas.
O governo brasileiro implementou a Operação Acolhida, a partir de 2018, oferecendo abrigo temporário e promovendo a interiorização — estratégia que visa redistribuir os refugiados para outras regiões do país.
Essa política foi fundamental para aliviar a pressão sobre Roraima e possibilitou que escolas de todo o Brasil, como a minha, passassem a acolher essas crianças.
A presença de crianças venezuelanas nas escolas brasileiras
O impacto nas escolas foi imediato e significativo.
Em 2019, o número de matrículas de crianças venezuelanas quintuplicou em relação ao ano anterior.
Na escola onde trabalho, hoje temos um número expressivo de alunos refugiados, o que trouxe uma série de desafios pedagógicos e humanos.
Entre eles:
- A barreira linguística: muitos chegam falando apenas espanhol.
- A necessidade de adaptação cultural: costumes e comportamentos diferentes.
- O acolhimento emocional: lidar com traumas e situações de vulnerabilidade.
Como professora, precisei buscar estratégias para:
- Facilitar a aprendizagem da língua portuguesa.
- Promover a integração cultural.
- Garantir que esses alunos se sintam acolhidos e respeitados.
Minha experiência: como acolhemos os refugiados na escola
O impacto da chegada de crianças refugiadas venezuelanas nas escolas brasileiras é muito mais complexo do que apenas um aumento no número de matrículas.
Na escola onde atuo, por exemplo, essa realidade já é parte do cotidiano, mas traz desafios que vão além da simples adaptação pedagógica.
As crianças refugiadas, em especial aquelas de origem palestina, que atualmente vivem em nossa cidade do interior de São Paulo em um lar temporário, enfrentam profundas dificuldades emocionais e sociais que afetam diretamente o processo de aprendizagem.
Muitas delas sentem vergonha da própria situação, sabem que estão em condição provisória, longe de casa, muitas vezes sem entender completamente o que está acontecendo com suas famílias.
Esse sentimento de deslocamento e insegurança interfere no comportamento em sala de aula e, consequentemente, na capacidade de alcançar um aprendizado significativo.
Na prática, enfrento o desafio constante de cuidar para que essas crianças se sintam acolhidas e respeitadas, não apenas por mim e pelos demais educadores, mas também pelos colegas brasileiros.
Infelizmente, em alguns momentos, precisamos intervir para evitar casos de bullying, pois as diferenças culturais, a dificuldade com o idioma e até mesmo a aparência física podem ser motivo de discriminação entre as próprias crianças.
A situação exige de nós, professores, um trabalho pedagógico e emocional intenso, que se estende também para além da sala de aula.
É preciso explicar, com sensibilidade, aos pais dos alunos brasileiros, nas reuniões escolares, o que está acontecendo na escola e a importância de promover um ambiente de respeito, empatia e acolhimento.
Muitas vezes, a falta de informação dos pais gera resistência ou incompreensão, por isso, o papel da escola na conscientização das famílias é fundamental para construir um espaço verdadeiramente inclusivo.
Outro obstáculo recorrente é a falta de um tradutor para facilitar a comunicação com as crianças refugiadas.
Na maioria das vezes, a tradução depende exclusivamente da disposição dos professores em usar seus próprios celulares, recorrendo a aplicativos de tradução para conseguir se comunicar com os alunos estrangeiros.
Algumas escolas, inclusive, não possuem recursos suficientes para garantir que cada professor tenha um celular funcional para atender essas demandas, o que torna ainda mais difícil oferecer um suporte linguístico adequado e permanente.
Esse conjunto de desafios, que vai desde barreiras emocionais até limitações estruturais, reforça a necessidade urgente de políticas públicas mais efetivas para o acolhimento de estudantes refugiados.
Enquanto isso não acontece, seguimos, com esforço e dedicação, buscando formas de garantir que essas crianças não apenas frequentem a escola, mas se sintam parte dela, com dignidade, segurança e a oportunidade real de aprender e construir novos caminhos.
Segundo o Conselho Nacional de Imigração, desde 2016 mais de 500 mil venezuelanos solicitaram refúgio no Brasil.
Ano | Pedidos de refúgio |
---|---|
2016 | 8.000 |
2017 | 13.000 |
2018 | 35.000 |
2019 | 34.000 |
2020 | 100.000 |
Esses números mostram a pressão crescente sobre as políticas migratórias e sobre o sistema educacional, especialmente em cidades fronteiriças e no Norte do país.
Aqui eu contei meu depoimento em outra rede social.
O impacto social e econômico da migração
A chegada de milhares de refugiados afeta profundamente:
- O mercado de trabalho — muitos recorrem ao setor informal.
- Os serviços públicos — saúde e educação sobrecarregados.
- A convivência social — desafios de integração e, em alguns casos, tensão entre migrantes e moradores locais.
Apesar disso, muitos migrantes contribuem ativamente para as economias locais e trazem uma riqueza cultural que transforma positivamente as comunidades.
A importância do acolhimento nas escolas
A escola é, muitas vezes, o primeiro espaço de acolhimento para essas crianças.
Como educadores, temos a missão de:
- Criar um ambiente seguro e inclusivo.
- Promover o respeito à diversidade.
- Desenvolver competências interculturais nos alunos e em nós mesmos.
A presença de alunos refugiados é, ao mesmo tempo, um desafio e uma oportunidade de crescimento para toda a comunidade escolar.
Conclusão
A crise migratória venezuelana nos convida à reflexão sobre o nosso papel enquanto educadores diante de emergências humanitárias.
Cada aluno refugiado que chega à nossa escola carrega uma história marcada por superação, dor e esperança.
Precisamos estar atentos às dinâmicas globais que impactam nossas escolas e preparados para oferecer acolhimento, aprendizagem e dignidade.
Agora quero te agradecer por ter lido este texto até aqui.
Espero que ele tenha ampliado sua compreensão sobre a crise migratória venezuelana e o papel da educação nesse contexto.
Compartilhe este artigo para que outros professores também possam refletir sobre esse tema tão importante.
Gratidão!
Professora Camila Teles
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Professora Camila Teles