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Dia dos Professores no Brasil. Essa expressão, embora envolta em homenagens, flores e discursos enfeitados, carrega em si um peso difícil de ignorar.
Enquanto boa parte da sociedade se lembra dos mestres com gratidão pontual, quem está na sala de aula diariamente sabe que essa data está muito longe de ser festiva.
Todo ano, nesse mesmo período, somos lembrados da importância do nosso trabalho.
Mas no restante do ano, o que vemos são cortes de verbas, salas superlotadas, falta de condições dignas de trabalho e um ciclo exaustivo de cobranças e desvalorização.
Não é exagero dizer que essa data soa como um paradoxo cruel.
O tom deste texto não é o de uma comemoração doce. É um desabafo necessário. O que se pretende aqui não é apagar a importância simbólica do Dia dos Professores, mas lançar luz sobre as feridas abertas que insistem em ser ignoradas.
É preciso coragem para não romantizar o que está doendo. E neste 15 de outubro, o que muitos de nós sentimos não é orgulho inabalável, mas cansaço, frustração e, por vezes, desânimo profundo.
Portanto, mais do que celebrar, este é um convite à reflexão. Não sobre homenagens pontuais, mas sobre a realidade cotidiana de quem sustenta a educação com esforço silencioso e muitas vezes solitário.
Insegurança do Professor: Processo Seletivo Todo Ano
Falar em estabilidade na docência é, para muitos professores brasileiros, quase uma ilusão. A cada novo ano letivo, somos obrigados a nos submeter a processos seletivos, provas, entrevistas, e uma constante disputa por vagas temporárias.
A lógica do contrato provisório virou rotina — e com ela, veio o medo permanente do desemprego.
Essa condição não afeta apenas o presente profissional, mas corrói o planejamento de vida. Não há como investir em formação continuada, comprar livros ou mesmo organizar a própria rotina quando não se sabe se haverá salário no próximo mês.
Valorização da trajetória? Pouco ou nada. Anos de dedicação e experiência são frequentemente ignorados frente a sistemas de seleção que desconsideram o histórico e priorizam apenas provas objetivas — muitas vezes mal elaboradas e descontextualizadas.
Esse ciclo de instabilidade gera angústia e adoece. O professor, que deveria ser incentivado a crescer, é colocado em constante estado de alerta e insegurança.
Leia também: Processo Seletivo para Professores - A Humilhação de Ser Testado Todo Ano
Valorização Inexistente E Salários Defasados dos Educadores Brasileiros
Os salários pagos aos professores brasileiros continuam entre os mais baixos do funcionalismo público, segundo dados do Todos Pela Educação (2024).
Em média, um docente da educação básica ganha 70% do que outros profissionais com formação equivalente.
Há um desequilíbrio gritante entre responsabilidade e remuneração. Somos cobrados por resultados, exigidos a lidar com situações complexas em sala de aula, esperados como exemplos morais, mas raramente reconhecidos de forma justa.
O impacto disso vai muito além do bolso. O sentimento de desvalorização constante interfere na motivação e alimenta o desejo crescente de abandonar a carreira.
Dados do Instituto Península (2023) mostram que 43% dos professores consideram deixar a profissão nos próximos anos — número alarmante e sintomático.
Enquanto não houver uma política clara e efetiva de valorização, estaremos apenas tapando buracos. E fingindo, ano após ano, que temos motivos para comemorar.
Leia também: A Desigualdade e Falta de Infraestrutura nas Escolas Brasileiras
A Rotina Exaustiva E A Sobrecarga Invisível da Sala de Aula
O mito das "férias longas" e da "carga horária leve" ainda persiste, mas a realidade do chão da escola é outra.
Muitos professores atuam em três, quatro turnos, em diferentes unidades, enfrentando deslocamentos cansativos e sem tempo sequer para almoçar com calma.
O planejamento de aulas criativas, leituras de atualização e correção de atividades disputam espaço com relatórios burocráticos, reuniões intermináveis e sistemas de avaliação cada vez mais impessoais.
O tempo pedagógico está sendo engolido por tarefas administrativas. Não há espaço para reflexão, para inovação ou mesmo para o descanso mental necessário ao exercício de uma prática docente saudável.
Esse cenário é terreno fértil para a exaustão — e, infelizmente, também para o adoecimento psíquico.
Leia também: Saúde Mental dos Professores - Dados Alarmantes Para Refletir
A Precariedade das Escolas e as Más Condições De Trabalho para os Professores
Faltam materiais, estrutura e dignidade nas salas de aula. É comum encontrar professores dando aula sem quadro adequado, giz, projetor ou internet estável. Em muitos casos, falta até papel.
Turmas com mais de 35 alunos inviabilizam qualquer tentativa de acompanhamento individualizado. E a ideia de uma educação personalizada, preconizada por tantos teóricos, torna-se impraticável.
Além disso, o próprio espaço físico das escolas impõe desafios: salas abafadas, cadeiras quebradas, banheiros sem manutenção. Esses detalhes cotidianos comprometem o processo de ensino-aprendizagem e afetam diretamente o bem-estar de professores e alunos.
A precariedade virou norma. E o esforço para dar conta, resistência diária.
Mediar Conflitos na Sala de Aula o Desafio Nosso de Cada Dia
Ensinar, hoje, é também um exercício constante de mediação de conflitos. A indisciplina em sala de aula aumentou — e não é fruto apenas do comportamento dos alunos, mas do abandono sistemático da escola como espaço de cuidado coletivo.
Falta apoio da gestão, das famílias e das políticas públicas. Muitas vezes, o professor é deixado sozinho diante de situações de desrespeito, agressividade verbal e até violência física.
Relatos de ameaças, agressões e até tentativas de linchamento não são exceção. O medo passou a fazer parte da rotina. E sem medidas efetivas de proteção, vamos apagando incêndios sem qualquer respaldo.
Leia também: Como Mediar Conflitos entre Alunos
Violência Escolar — Sintomas De Um Sistema Doente
A violência nas escolas brasileiras deixou de ser pontual para se tornar um sintoma sistêmico. Não se trata apenas de indisciplina, mas de agressões físicas, ameaças e ataques letais que escancaram a falta de proteção ao corpo docente e discente.
Casos recentes mostram que o ambiente escolar tem se tornado um espaço de medo, com professores adoecidos emocionalmente e expostos a riscos graves. A ausência de protocolos eficazes, o abandono institucional e o avanço de discursos extremistas contribuem para o agravamento desse cenário.
Agressões Diretas Contra Professores Crescem
Agressões físicas a docentes aumentaram 26% em 2024, segundo a CNTE. Ofensas verbais e ameaças também se tornaram parte da rotina.
Morte Em Sala De Aula Causa Comoção Nacional
Em março de 2023, a professora Elizabeth Tenreiro foi assassinada por um aluno de 13 anos em uma escola pública de São Paulo.
Ataque Em Creche Deixa Quatro Crianças Mortas
Em abril de 2023, um agressor invadiu uma creche em Blumenau (SC) e matou quatro crianças com golpes de machado.
Professores Trabalham Sob Medo Permanente
38% dos docentes relatam sentir medo ao menos uma vez por semana durante o exercício da profissão.
Falta De Protocolos De Segurança É Generalizada
A maioria das escolas não possui plano de ação diante de situações violentas, nem equipe capacitada para mediação de conflitos.
Explosão De Ameaças Em Fóruns De Internet
Mais de 500 ameaças de ataques a escolas foram registradas entre 2022 e 2023, com investigações ligadas a grupos extremistas.
Professores São Alvo De Agressões Verbais Frequentes
74% relatam ofensas, intimidações e humilhações, segundo a pesquisa "Educação em Alerta" (2024).
Aluna Fere Professora Com Faca Em SP
Uma estudante de 13 anos esfaqueou a professora após discussão em sala, evidenciando a falta de mediação e apoio emocional.
Vandalismo E Depredação Agravam Clima De Insegurança
Escolas relatam incêndios, depredações e destruição de equipamentos, especialmente em regiões periféricas.
Armas Nas Escolas São Realidade Em Muitas Regiões
A ANDEP revelou que 1 em cada 10 escolas de ensino médio já enfrentou incidentes com armas em ambiente escolar.
Ataque Em Suzano Choca O País E Expõe Fragilidade Sistêmica
Em março de 2019, dois ex-alunos invadiram a Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano (SP), e assassinaram cinco estudantes e duas funcionárias antes de cometerem suicídio.
O episódio provocou pânico nacional e levantou debates sobre segurança e saúde mental juvenil.
Agressão Entre Alunos Em Goiânia Gera Alerta Nacional
Em outubro de 2017, um estudante de 14 anos abriu fogo contra colegas dentro de uma escola particular em Goiânia, matando dois e ferindo outros quatro. O caso, amplamente divulgado, acendeu o debate sobre bullying, acesso a armas e ausência de acompanhamento psicológico nas instituições.
Pressões E Cobranças Sem Suporte Real
Além da sala de aula, enfrentamos um outro inimigo: a cobrança por resultados que desconsidera o contexto. As avaliações externas impõem metas inalcançáveis, sem que haja investimento correspondente em formação, estrutura ou apoio psicológico.
Enquanto se cobra desempenho, pouco se discute saúde mental. Os casos de síndrome de burnout entre professores aumentaram 18% nos últimos três anos, segundo o Ministério da Saúde (2024).
Estamos adoecendo. E quem cuida de quem educa?
O suporte prometido é, muitas vezes, só discurso. Falta psicólogo na escola, falta tempo para escuta, falta política de acolhimento. O esgotamento já não é a exceção — virou regra.
Leia também: Professor, Aprenda a Não Levar Trabalho Para Casa
Falhas Sistêmicas E Ausência De Políticas Sólidas
O currículo engessado, a ausência de diálogo com a realidade dos alunos e a falta de incentivo à formação continuada formam um tripé de estagnação. Avançar, nessas condições, é tarefa quase impossível.
A formação inicial, em muitos casos, é defasada. E quando o professor busca se atualizar, encontra obstáculos: custos altos, falta de tempo e desvalorização institucional.
Além disso, a escola tem sido abandonada pela família e comunidade. A corresponsabilidade na educação, tão defendida por autores como Dermeval Saviani, desapareceu na prática.
A educação virou um esforço solitário — e isso é insustentável.
Como celebrar, então, o Dia dos Professores diante desse cenário tão marcado pela precarização? A resposta talvez esteja não na comemoração em si, mas na resistência silenciosa e insistente que define o nosso fazer docente.
Se ainda há algo a ser comemorado neste 15 de outubro, é a capacidade do professor brasileiro de resistir. De continuar, apesar do cansaço. De ensinar, mesmo sem condições. De acreditar, ainda que tudo conspire contra.
Porque o verdadeiro presente para o professor não está em palavras bonitas, mas em ações efetivas.
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Professora Camila Teles