Projeto Político Pedagógico; Documento para "Inglês Ver"

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Projeto Político-Pedagógico. Um nome que parece importante, mas que, em muitas escolas, não passa de um documento escondido numa gaveta da direção.

Eu já trabalhei em escolas onde o PPP era tratado como um enfeite. Um arquivo para mostrar em visita de supervisor, não um instrumento vivo de trabalho.

Na maioria das vezes, ele é escrito por meia dúzia de pessoas, sem escuta da comunidade, sem conversa com os professores, e depois é esquecido. 

Nenhuma reunião pedagógica menciona o PPP. Nenhuma decisão concreta é tomada com base nele.

A escola vira um barco à deriva: cada um rema para um lado. E quando o conflito aparece, ninguém sabe qual é o caminho oficial. O PPP deveria ser esse caminho. Mas não é.

Neste texto, eu quero te mostrar por que isso acontece, o que está errado e, principalmente, o que nós, professores, podemos fazer com o que temos. Mesmo que a estrutura não colabore.

O Que Deveria Ser O Projeto Político-Pedagógico

O Projeto Político-Pedagógico é um documento obrigatório por lei. A LDB (Lei nº 9.394/1996), em seu artigo 12, inciso I, determina que é responsabilidade da escola "elaborar e executar sua proposta pedagógica".

Isso significa que o PPP não é opcional. Ele deve existir. Mas mais do que existir, deveria guiar todas as decisões pedagógicas da escola: currículo, avaliação, planejamento, formação de professores, relação com a comunidade e até a organização da gestão.

A palavra “projeto” indica planejamento. “Político” refere-se à escolha coletiva sobre o tipo de cidadão que queremos formar. “Pedagógico” aponta para os meios que usamos para isso.

Segundo Veiga (2003), o PPP expressa a identidade da escola, suas intenções e práticas, devendo ser construído com participação democrática. Mas a prática está longe disso.

Leia também: Como Mediar Conflitos Entre Alunos

O Que Acontece Quando O PPP Vira Documento Para “Inglês Ver”

Na prática, o que eu vejo é um PPP copiado de outras escolas, com frases prontas, metas genéricas e pouca relação com a realidade local. Quando muito, ele serve para cumprir exigência de visita técnica ou processo de avaliação externa.

E qual o problema disso?

O problema é que a escola perde o seu rumo. Cada professor atua de acordo com sua própria visão, a coordenação cobra metas que não foram discutidas com ninguém, e a comunidade não se reconhece no discurso da escola.

É o cenário ideal para o autoritarismo pedagógico. Quando o PPP não tem força, quem manda é quem grita mais alto, quem tem mais tempo de casa ou quem ocupa o cargo mais alto. Isso sufoca o professor e bloqueia qualquer tentativa de inovação.

Uma reportagem do portal G1 (2024) mostrou que 62% dos professores da rede pública nunca leram o PPP da própria escola. Isso explica por que tantos se sentem desamparados e isolados nas decisões pedagógicas.

O Que O Professor Pode Fazer Mesmo Quando O PPP Não Funciona

Se você está em uma escola onde o PPP é só fachada, eu entendo sua frustração. Já estive nesse lugar. Mas há caminhos possíveis — e éticos — para não se deixar engolir por esse sistema.

O primeiro passo é acessar o documento. O PPP não é segredo. Ele deve estar disponível para qualquer membro da comunidade escolar. Se não estiver, solicite formalmente. A LDB garante esse direito.

Depois, leia com atenção. Identifique as contradições entre o que está escrito e o que é praticado. Faça anotações. Leve questionamentos para a próxima reunião pedagógica.

Se a escola está aberta ao diálogo, proponha a revisão participativa do PPP. A cada três anos, o documento deve ser reavaliado. Você pode articular essa pauta com outros colegas, buscando apoio da coordenação ou até do Conselho Escolar, quando houver.

Se a gestão é fechada, você pode usar o conteúdo do PPP como argumento para defender sua prática. É diferente dizer “é meu jeito de trabalhar” e dizer “minha prática está alinhada com o que o PPP prevê sobre metodologias ativas, por exemplo”.

Você também pode usar o PPP como ferramenta de formação: traga trechos do documento para debater com outros professores. Pergunte: “Essa proposta faz sentido para nossa realidade? Estamos conseguindo cumprir isso?”

Mesmo sem poder mudar tudo, você pode usar o que existe a seu favor.

Três Situações Reais Em Que O PPP Pode Te Proteger

  1. Cobranças indevidas: se a coordenação exige práticas que não estão previstas no PPP, você pode questionar com base no próprio documento.

  2. Planejamentos incoerentes: se o PPP fala em ensino por projetos, mas o planejamento é baseado apenas em conteúdo expositivo, você pode levantar esse ponto.

  3. Mudança de gestão: quando uma nova direção chega com ideias incompatíveis com a história da escola, o PPP pode ser usado para preservar sua identidade.

O PPP Também Pode Ser Um Espaço De Luta Política E Ética

Escola é lugar de disputa. Disputa de ideias, de valores, de visões sobre o que é ensinar e aprender. O PPP, quando feito com seriedade, é o lugar onde essas disputas viram decisão coletiva.

Mas isso só acontece quando há espaço para participação. O professor precisa ser escutado. E precisa saber que tem direito a essa escuta.

A Resolução CNE/CEB nº 7/2010, que trata das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, reforça que a escola deve construir sua proposta com base na escuta dos sujeitos envolvidos no processo educativo.

Se a sua escola não faz isso, não é apenas uma falha pedagógica. É uma violação de diretrizes legais.

Um estudo publicado na Revista Educação & Sociedade (PEREIRA, 2022) mostra que escolas com PPPs participativos têm maior coerência entre discurso e prática, além de professores mais engajados. Não é coincidência.

Quando há coerência, há pertencimento. E quando há pertencimento, há potência de mudança.

Como Iniciar Uma Revisão Coletiva Do PPP

Se a sua escola estiver disposta a rever o PPP com seriedade, aqui vão três caminhos práticos para começar:

  1. Formar uma comissão interna, com professores, coordenação, funcionários e representantes de pais e alunos.

  2. Levantar dados reais da escola: resultados, evasão, perfil da comunidade, conflitos mais comuns.

  3. Propor oficinas e rodas de conversa, partindo da pergunta: que escola queremos ser?

Nada disso é simples. Mas é possível. Já participei de processos assim. Demora, dá trabalho, mas transforma. Não o documento em si, mas a maneira como a escola decide sobre sua própria prática.

Conclusão

Se o Projeto Político-Pedagógico da sua escola é só um documento para "inglês ver", você não está sozinha. Esse é o retrato de muitas redes públicas no Brasil. Mas isso não precisa ser um ponto final.

Conhecer o PPP é, antes de tudo, uma forma de defesa. De se posicionar com base em um documento oficial. De não ficar à mercê da vontade de quem ocupa cargos, mas desconhece a sala de aula.

E mais do que isso: é uma chance de propor mudança. Mesmo que pequena. Mesmo que lenta. Mesmo que no seu ciclo mais próximo.

O PPP pode ser só papel. Ou pode ser prática viva. Vai depender da força que a gente coloca nele.

Se você chegou até aqui, saiba que essa força começa com uma decisão: não aceitar mais trabalhar no escuro.

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